domingo, 6 de junho de 2010

vinho, taça e marcas

- Tem como você juntar esses cacos aí, pra mim?
- Não! - era tudo que eu não precisava naquele momento.
- Por favor?!
- Eu não posso, não consigo. - derrubar a porcaria da taça, com todo meu vinho ela conseguia, né?!
- Não consegue...
- Desculpa, mas eu não posso mais. - isso era mesmo a respeito da taça?
- Não pode mais o que?
- Isso, tudo. Eu não posso mais fazer isso entende? - não, eu não entendo.
- Ta bom, tchau! - ela não moveu nenhum dedo, dando sinal de que sairia da minha casa, ou que se aproximaria de mim.
- Olha, eu... - eu não podia ouvi-la naquele momento, eu não queria, eu precisava que ela saísse de verdade.
- Não. Você não precisa se explicar. Só me dê licença, pra eu juntar os cacos. - ela desviou seus olhos de mim, pegou sua bolsa preta com estampa, e saiu porta afora.

Olhei pela janela, aquela minha parte bonita sair da minha casa, sair de mim, não querendo mais a mim. Eu me sentia em um filme, onde as coisas iriam se resolver e tudo voltaria, ela voltaria... mas ao olhar o vinho que manchava o tapete que um dia compramos, e os cacos espalhados pela sala de estar, não pude controlar tudo que vinha em mim.
Era como usar cola, para unir os cacos e ter de volta minha taça.. se eu colocasse vinho dentro desta, ele começaria a escorrer pela taça, passando por entre os pedaços juntados.
Me levantei querendo sair de mim, fui ao meu quarto, me deitei e olhei para o teto... agora era o momento de começar a reescrever canções, seria tudo-denovo, e isso me parecia um ciclo, já que era sempre recomeçando... era um caos, um saco ter que olhar novamente para os lados, e esquecer o que havia acontecido.
Minha taça preferida, estava espatifada... meu vinho com o melhor gosto, estava marcado no tapete que eu gostaria de odiar.
Não chorei, não sorri... quando era necessário havia fingimento, havia um "tudo bem" que vinha de mim, da boca pra fora. Estou há algum tempo tentando tirar a marca do vinho, e juntando quando acho os cacos que ela se recusou.